A guerra comercial lançada por Donald Trump é mais intensa do que as projeções mais pessimistas de alguns meses atrás. A tarifa média imposta pelos Estados Unidos subirá para níveis da primeira metade do século 20, revertendo décadas de liberalismo. Mas, para alívio do Brasil, as tarifas mais pesadas recaíram sobre a China e outros países asiáticos, que têm superávits enormes com os Estados Unidos.
Antes de saber a força das tarifas contra o Brasil, o Congresso brasileiro debatia um projeto de lei para facilitar a retaliação contra países que adotem práticas desleais de comércio. O projeto (PL 2088) foi pensado originalmente como contraponto ao protecionismo agrícola europeu. Mas, num segundo momento, foi adotado pelo governo como ferramenta útil para negociar com os Estados Unidos de Trump. O projeto terminou de ser aprovado pela Câmara dos Deputados na noite de quarta-feira e será convertido em lei ainda neste mês.
A chance de uma retaliação do Brasil caiu significativamente após o anúncio de Trump Foto: BRENDAN SMIALOWSKI
Mesmo que relativamente baixas, as tarifas contra o Brasil devem prejudicar as exportações do país e poderiam, em tese, justificar a aplicação das medidas previstas na nova lei. Isso é especialmente verdadeiro no caso do aço e alumínio, que são um dos principais itens da pauta exportadora brasileira para os Estados Unidos (cerca de US$ 3,2 bilhões em 2024) e estão sujeitos a uma tarifa adicional de 25%. Entre as sanções previstas está a suspensão de obrigações do Brasil em relação a direitos de propriedade intelectual.
Mas a chance de uma retaliação do Brasil caiu significativamente após o anúncio de Trump. Em primeiro lugar, há muito pouca margem para uma redução da tarifa de 10%, dado que esse é o nível mínimo imposto sobre todos os países. Esse número só cairá se a tarifa mínima for reduzida, o que depende da política doméstica americana, e não da negociação bilateral com o Brasil. O máximo que o Brasil pode almejar por ora seria uma isenção, ainda que parcial, das tarifas sobre o aço, alem de obviamente lutar contra novas tarifas setoriais sobre o etanol ou outros produtos.
Em segundo lugar, não só Trump deixou pouca margem para melhorar a posição do Brasil, como reforçou sua autoridade para elevar as tarifas imediatamente contra os países que responderem de forma agressiva. No caso do Brasil, o risco de uma escalada retaliatória é muito grande, pois poderia levar a um aumento significativo das tarifas recíprocas.
A palavra de ordem em Brasília, portanto, deverá ser paciência. No primeiro mandato de Trump, o Brasil levou mais de cinco meses para conseguir, junto a outros países, uma reversão parcial das tarifas sobre o aço. Agora, Trump está se mostrando mais intransigente e agressivo em sua busca por redesenhar as cadeias de produção e privilegiar os empregos e a produção norte-americana. Isenções serão ainda mais difíceis. Mas retaliar seria contraproducente.